Wednesday, August 09, 2006

A incandescência da chuva



A chuva é sempre incandescente?
Ouvi falar acerca da incandescência da chuva, que por vezes cai com a cadência de minúsculas gotículas curvilíneas e lineares a gemas, com reflexos pingados de orvalhos nítidos.
A chuva caiu, incandesceu a atmosfera com o seu cintilar anguloso e triunfantes. Rompendo as searas e o pores dos sois embriagantes de tons de fogo.
Ao tocar no chão, grãos de pó na terra seca agregam-se, rodeando a gotícula, cristalizando e testando a tensão superficial que se gera em seu torno.
A bola de gota que caiu longos quilómetros pelo céu afora, vai-se transformando em bola de terra, que espelha o seu aroma indescritível e arrepiante pelo ar, quebrando a pestilente atmosfera dos esgotos da cidade.
A chuva é incandescente – eu vi, chuviscos longos e demorados caírem do céu aberto sobre o fogo, e a incandescência da chuva alimentou esse fogo.
A incandescência da chuva a moer as cinzas, tornando-as uma pasta moldável fértil e progressiva.
A incandescência da chuva sobre a areia muito fininha, o contacto que aquece o mar sobre os nossos corpos.
A incandescência da chuva, que nos queima as ideias e os pensamentos.
Por isso continua a chover lá fora.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home